Trabalhar de forma estratégica com ênfase em planejamento e gestão com o objetivo de otimizar processos e desenvolver técnicas construtivas eficazes e efetivas, tem sido o grande desafio nas empresas na Industria da Construção. A CBIC destaca no Guia CBIC de Boas Práticas em Sustentabilidade na Indústria da Construção (2012) que “conseguir antecipar cenários, identificando previamente erros de projeto e interferências construtivas e, ainda, ter maior controle sobre custos e cronograma é uma das buscas incansáveis das empresas da Construção”. E o BIM, sigla para Building Information Modeling (em português, Modelagem de Informação da Construção) tem se mostrado uma grande aliada no armazenamento e compartilhamento de dados de uma obra.
Estima-se que, no Brasil, o nível de produtividade da construção civil brasileira é quatro vezes menor que a de países como Estados Unidos, China, Rússia e os da União Europeia e quase 50% menor que a média da economia nacional. Francisco Vasconcellos, vice-presidente do SindusCon-SP, afirmou através de um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), que “O Brasil possui um duplo gap: os desníveis de produtividade da construção em relação à média da economia brasileira e da construção brasileira em relação ao mesmo setor em países comparados na pesquisa”.
Por isso entende-se que o cenário hoje exige que as empresas do ramo da Construção Civil se tornem mais eficientes, reduzam custos, e principalmente possam garantir segurança e sustentabilidade em seus canteiros. O desenvolvimento de grandes empreendimentos na área da arquitetura e engenharia, considerando todo o ciclo de vida de um projeto, desde a sua concepção, ao acompanhamento, controle de obras e a gestão e manutenção de edificações e obras de infraestrutura, apontam para o BIM como uma metodologia inovadora para atingir o patamar exigido no mercado hoje. O BIM proporciona redução de erros de compatibilidade, otimização dos prazos, maior confiabilidade dos projetos, processos mais precisos de planejamento e controle de obras, aumento de produtividade, diminuição de custos e riscos e economia dos recursos utilizados nas obras.
O BIM é uma ferramenta de planejamento que utiliza um modelo virtual em três dimensões para projetar toda a construção antes de iniciar os trabalhos no canteiro de obras. Pode impactar em toda a cadeia de fornecedores e mão de obra, obrigando-os a se qualificar e desenvolverem boas praticas no setor. Além disso, estudiosos apontam que, com a adoção do BIM, estima-se uma redução de 9,7% dos custos totais da obra e de 20% dos custos com insumos.
Por se tratar de um processo de criação de modelos de informações para todo o ciclo de vida de um projeto de construção (Ver figura 1), contendo informações gráficas e não gráficas em um repositório compartilhado de dados e, à medida que esse projeto progride, tais informações tornam-se cada vez mais detalhadas, o BIM permite que toda a cadeia de suprimentos do projeto possam trocar informações de forma digital, através do uso de softwares específicos para cada disciplina. Em outras palavras, todas as informações referentes a determinada obra são armazenadas em um único modelo, que pode ser acessado e modificado a qualquer momento por qualquer integrante do processo, mantendo-o sempre atualizado. Com os softwares são gerados modelos virtuais que possibilitam a visualização dos projetos de estrutura, hidráulica, elétrica, prevenção de incêndios, acessibilidade, etc), o que permite além de visualizar o modelo no computador ou em aplicativos de celular, também pode-se representar em realidade virtual aumentada conferindo in-loco as propostas adotadas durante a fase de elaboração do modelo, bem como na sua execução, sendo possível obter todas as informações a respeito da obra, além de possibilitar a detecção de incompatibilidades construtivas, gerar o orçamento detalhado e acompanhar o físico-financeiro.
A utilização do BIM vai além de funcionalidades como a geração de modelos virtuais tridimensionais e a possibilidade de verificação de interferências nos projetos (clash detection). A evolução aponta principalmente para a integração com as ferramentas de planejamento, ou seja, para o chamado BIM 4D. Nele, às três dimensões espaciais que compõem o modelo 3D, é acrescida a variável tempo, tornando-se possível incorporar ao modelo informações sobre cronograma, sequência de obra e fases de implantação.
Esse cruzamento de informações possibilita visualizar de forma virtual todo o avanço da obra, auxiliando na antecipação de tomada de decisões que seriam adotadas em etapas posteriores, com isso evita atrasos e desperdícios. O BIM 4D auxilia na realização de simulações de logística de canteiro, ajuda a solucionar conflitos entre serviços, definir a quantidade de operários necessários para realização das atividades, além de estudar a locação de gruas, cremalheiras e outros equipamentos, verificando sua interface com a logística e a execução das fachadas. A integração do modelo 3D com o cronograma aumenta a eficiência de obras industrializadas, pois permite programar com maior precisão as entregas de elementos pré-fabricados.
Recomenda-se, com o modelo 4d, simular diferentes cenários com o intuito de prever os impactos nos processos e com isso desenvolver planos de contingência mais eficazes. E simular também diferentes planos de ataque, afim de adotar qual o melhor caminho para a execução da obra. Ao combinar um modelo 3D com sua evolução ao longo do tempo, o BIM 4D apresenta a sequência executiva de forma mais eficiente do que um diagrama de Gantt tradicional. O resultado é bastante visual, o que facilita a troca de informações com as partes envolvidas que não sejam da área de projetos/construção. Além disso, outras vantagens são obtidas a partir do uso da modelagem, como: (1)Permite
que o planejamento da execução seja otimizado por meio da visualização de elementos/atividades conflitantes; (2) Oferece detalhamento visual de cada atividade que vai ser executada em determinados períodos, como o controle semanal, através de fichas de pacotes de trabalho estratégicos; (3) Facilita o entendimento do sequenciamento construtivo, que pode não ser totalmente claro em casos de empreendimentos complexos ou equipe de execução com pouca experiência.
Porém, adotar o uso do BIM e por consequência o BIM4D não é uma tarefa simples e, por isso mesmo, requer grande expertise na sua execução. O grande desafio está no desenvolvimento dos modelos. É necessário criar uma padronização de informações que parte desde o diretório de armazenamento até às especificidades pertinentes a cada projeto. Além do mais, é necessário realizar diversas revisões para garantir a compatibilização dos projetos, para quem não existam ‘clashs’ no momento da execução. É necessário dedicar recurso financeiro e humano para inserir o BIM nas rotinas das empresas de Construção Civil. Mas, os resultados alcançados após a adoção desta inovação que é o BIM são assertivos, e ainda possibilita às empresas estarem a frente dos seus concorrentes quem ainda não utilizam essa tecnologia.